quarta-feira, 18 de maio de 2011

Construtor de 83 anos "domina" zona oeste de SP

IRENE RUBERTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Todas as manhãs, Paulo Mauro faz questão de vistoriar pessoalmente os canteiros de obras da construtora que leva seu nome. Aos 83 anos, ele já ergueu 111 edifícios residenciais, 80% deles nos bairros de Perdizes e Pompeia, na zona oeste de São Paulo. As torres revestidas de pastilhas e cerâmica tornaram-se sua marca registrada, em apartamentos que costumam ter de 100 m² a 250 m².

Paulo nasceu em Salerno, no sul da Itália, e, por um erro no registro (faltou o di antes do Mauro), muita gente se confude e pergunta qual é o seu sobrenome. Chegou ao Brasil aos dois anos, com os pais e mais dois irmãos. A família se estabeleceu no bairro da Pompeia, e Paulo não saiu mais da região.

Dos tempos de menino, lembra-se de caçar passarinhos com o pai em um matagal entre as ruas Clélia e Barão do Bananal. "Nós também íamos pegar marrecos perto da linha férrea, atrás da avenida Francisco Matarazzo", lembra.

Optou por concentrar seus empreendimentos em uma mesma região para facilitar o acompanhamento das obras. Depois de visitá-las, ele dá expediente no escritório da empresa. "Trabalho desde os 14 anos, estou acostumado", diz.

Paulo começou no laboratório químico das Indústrias Matarazzo, depois fez engenharia no Mackenzie e chegou a ser acionista do Banco Real do Progresso, que acabou sendo comprado pelo Bamerindus.

Construiu postos de gasolina e armazéns pelo interior antes de se dedicar a prédios. Atualmente, está erguendo uma torre de 27 andares na Vila Romana, na zona oeste.

Nesses mais de 50 anos, viu mudarem muitas coisas, por exemplo, o número de vagas de carros por apartamento. "Agora há empreendimentos com até três subsolos."

Com novos equipamentos, eletrodomésticos e ar-condicionado, a sobrecarga elétrica também aumentou. E os compradores hoje são mais exigentes. Para atrair o cliente, é preciso prever, na planta, sala de ginástica e cinema. As varandas também se tornaram um diferencial. "Não se pode mais viver enclausurado entre quatro paredes."

Fundada em 1955, a empresa de Paulo é enxuta, conta com 250 funcionários, mas já construiu mais de 2 milhões de metros quadrados. Ali trabalham seus três filhos: dois engenheiros e um economista. "Ele é muito motivado, tem uma disposição impressionante, não gosta de depender dos outros e nunca se abala com o noticiário econômico", conta um deles, Marcos Mauro, 48. Também já fizeram parte da construtora dois irmãos de Paulo, já falecidos.

Desde que ficou viúvo, há 11 anos, ele diz ter perdido o interesse por viagens e idas ao cinema. Embora reclame que os terrenos estejam ficando "escassos e caríssimos" na zona oeste, não pretende se aposentar e continua com novos projetos. "A gente não sabe fazer outra coisa."