quarta-feira, 23 de março de 2011

Bonecos adesivos "família feliz" viram moda no trânsito

IRENE RUBERTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Começou com um casal simpático e seus filhos sorridentes. A sogra, o cachorro e o papagaio chegaram em seguida. Os adesivos representando uma família feliz ganharam a traseira dos carros e viraram moda. Os bonequinhos, que começaram a se tornar mais populares a partir do segundo semestre do ano passado, não param de ganhar cada vez mais modelos e novas versões.

Tem pai careca ou cabeludo, mãe perua, bebê e várias opções de pets, que vão de gato e cachorro a coelho e tartaruga. Só a empresa Job Adesivos, que atende pela internet e em uma loja no Tatuapé, região leste de São Paulo, oferece cerca de 200 modelos de adesivos.

Mas quem ainda assim achar que sua família não ficará bem representada pode pedir a personalização dos adesivos. “Já encomendaram um boneco com perna engessada e um pai falecido, com asas, como um anjo”, conta o proprietário, Germano Spadini da Silva Júnior, de 31 anos, que vende de 8 mil a 9 mil unidades por mês. Cada adesivo custa R$ 3,00 e os personalizados podem chegar a R$ 5,00.

“As mulheres são as que mais compram”, conta Alexandre Augusto Cunha, de 34 anos, sócio da empresa Store One. São mais de 50 modelos de bonequinhos, com preços que vão de R$ 5,50 a R$ 8,50. “Os campeões de venda são o pai executivo, carregando notebook, e a mãe perua, de celular e sacola de compras.”

Existe até uma versão estilizada da família, representada por havaianas. Um chinelão para o pai, um menor para a mãe e pares pequenos dos filhos. “Criamos esse adesivo para ser uma opção diferente e está vendendo bem”, afirma Camila Salema, de 32 anos, da empresa Leguts. A cartela com 24 pares custa R$ 45,00. A empresa está desenvolvendo duas linhas de família feliz que devem estar à venda no site no início do próximo mês.

No meio dos congestionamentos, os autocolantes acabam chamando a atenção. “Pelos retrovisores, vejo o pessoal dos outros carros apontando e comentando sobre os nossos adesivos”, conta o empresário André Monteiro Carvalho, de 40 anos. Há cinco meses, ele colou os bonequinhos em seu carro, representando ele, a mulher, os dois filhos, a sogra e o cachorro. “Foi todo mundo junto na banca de jornal para escolher seu próprio adesivo e dar palpite.”

Há quem tema usar os autocolantes por achar que estará dando informações para bandidos, que pelos adesivos poderiam saber hobbies e profissões da família. A Polícia Militar de São Paulo, por meio de sua assessoria de imprensa, informa que não “há estudos que relacionem o uso dos adesivos e a criminlidade”.

Ação de pessoas mal intencionadas que se tenha notícia, só em um vídeo que está fazendo sucesso no YouTube. Na gravação bem humorada, intitulada A Guerrilha dos Adesivos de Família, um grupo de rapazes cola figuras nos carros, sugerindo relações extraconjugais e a existência de filhos fora do casamento. Em um dos carros estacionados, colocam dois bonequinhos iguais , como se o veículo pertencesse a um casal gay.

terça-feira, 22 de março de 2011

Vovóóó

IRENE RUBERTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Eles buscam na escola, levam à natação, ajudam no banho. Cada vez mais avós respondem por cuidados com as crianças Mas a questão é que eles também liberam o doce antes do jantar.

Os pais não poderiam contar com ajudantes mais confiáveis e preparados. Só que divergências no jeito de educar os pequenos podem tumultuar a convivência.

"As avós acham que, se deu certo da forma como fizeram com os filhos, não há por que mudar. Mas a medicina evoluiu muito" diz o pediatra Fabio Ancona Lopez, que lança hoje o livro "Avós e Netos" (Manole),um manual de convivência.

Segundo ele, muitas avós insistem em dar chás e papinhas para bebezinhos, quando a recomendação, hoje, é o aleitamento materno exclusivo até os seis meses.

Avós também estão presas à ideia de que "mais gordinho é mais fortinho", afirma. "A criança que passa mais tempo com avó tende a ter um ganho de peso maior."

Se é assim, Lopez pede que a avó participe das consultas. "Pediatra que não ganha a avó perde o cliente", diz.

Além de ter guloseimas, a casa dos avós costuma ser um espaço gostoso onde netos podem assistir TV até tarde, comer no sofá etc.

Quer dizer: mais motivos para discussões entre pais e avós. "Na casa dos pais é uma lei, na dos avós é outra", libera geral a psicóloga Ceres Alves de Araújo.

"Quem educa é pai e mãe, os avós não têm essa função."

Vovô e vovó estão, portanto, autorizados a deixar o neto fazer tudo, até o que talvez negaram aos filhos, quando eram papai e mamãe.

Mas, se os pais da criança fazem um pedido tipo não dar chocolate à criança, os avós devem atender, diz a psicóloga. "Agora. se não há ordem contra, tudo bem."

Se pais e avós não forem um só time, o pequeno percebe e tira proveito. "Sem acordo, a criança manipula", diz.

É preciso ficar claro que quem manda são os pais. "Se a criança pede algo aos avós, esses devem dizer que vão consultar os pais dela antes."

Beatriz Ramos, 63, diz se esforçar para não interferir na educação do neto Heitor, um ano e sete meses. "Tento ser solidária, mas respeitar o espaço. É preciso estar por perto, mas não tão perto."

Antes de arrumar uma briga por uma bobagem, os pais devem levar em consideração a dedicação dos avós.

"É preciso saber agradecer, lembrar que eles não têm obrigação de cuidar de criança, e que isso às vezes é um esforço para uma pessoa de mais idade", diz Tania Zagury, professora da UFRJ que lança o livro "Filhos: Manual de Instruções".

Para ela, avô não estraga neto. "O maior estrago pode ser mimar um pouco, mas o ganho afetivo é maior que qualquer mau hábito que a criança possa adquirir."

A convivência entre avós e netos beneficia os dois lados, claro. A tarefa de cuidar de criança faz com que muitos avós se sintam úteis e renovados. "Pessoas aposentadas e deprimidas ganham motivação com a responsabilidade, além do carinho da criança", diz Lopez.

Do lado dos netos, os ganhos vão além dos mimos. "A criança percebe o processo de envelhecimento, aumenta seu respeito pelos idosos e tem uma noção mais completa de família", diz a educadora Tânia.

NOVAS FAMÍLIAS

Os avós são figuras importantes nas novas famílias, com tantas separações e ramificações. "Aos avós cabe o papel de promover a unidade e harmonia dessas famílias ampliadas", diz Lopez.

Muitas vezes, são os avós que têm novas uniões: surgem as figuras da avó madrasta, a "avodrasta", e do "avodrasto". "Avós acabam abarcando uma infinidade de crianças introduzidas na família", diz Ceres.

A Câmara dos Deputados aprovou projeto que dá aos avós o direito de visitar os netos, filhos de pais separados. Não é raro a criança manter só o vínculo familiar com quem obteve a guarda. Falta a sanção presidencial.

O administrador Danilo Chasles, 72, diz que remoçou com o nascimento do neto, Gabriel, 2. Vovô o acompanhou desde os exames de ultrassom e cuidou do menino quando recém-nascido.

"O Gabriel chama meu pai de 'vovô amigão'", diz a psicóloga Luciana Chasles, 32. E o "amigão" conta: "Quando vou buscá-lo na escola, ele corre e pula no meu colo."

CASA DA VOVÓ X ESCOLINHA

Quem não pode contar com os pais em tempo integral para deixar os filhos recorre às escolas infantis.

"Deixar com os avós é vantajoso pelo vínculo amorosos", afirma a professora Maria Márcia Sigrist Malavasi, coordenadora do curso de pedagogia da Faculdade de Educação da Unicamp.

Mas as chamadas escolinhas oferecem vantagens. "Esses espaços possuem uma metodologia para cada faixa etária e criam um clima coletivo. As crianças aprendem a repartir, a perder e a ganhar", afirma a professora.

Um estudo de pesquisadores britânicos mostrou que bebês que estavam sob os cuidados dos avós aos nove meses de idade apresentaram mais problemas de comportamento aos três anos em comparação com crianças que estavam em creches, escolinhas ou com babás.

Foi provado que os bebês que convivem mais com os avós têm mais facilidade para vocabulário, mas perdem em experiências sociais.

"Os espaços cuidadores são mais lúdicos, a criança começa a ter uma desenvoltura melhor", defende a professora da Unicamp. "Se estiver pintando ao lado de um colega, a criança vai olhar o que o outro está fazendo, tentar imitar. Em casa, é provável que a avó queira ajudar com a pintura, e a criança não se sentirá tão desafiada."