terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Patrulhinhas verdes

IRENE RUBERTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Onde quer que estejam, crianças são bombardeadas por mensagens de preservação ambiental. Elas decoram a cartilha verde e lideram a adoção de novos hábitos.
É um exército mirim em formação. A patrulhinha economiza água, separa o lixo e chama a atenção de quem não segue regras ecologicamente corretas. Uma graça.
O problema é que a missão "salvar o planeta" é pesada demais para a pouca idade.
"Algumas informações estão muito distantes da capacidade cognitiva de crianças", diz Adriana Braga, bióloga e professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal de São Paulo.
"Escolas já me procuraram porque os alunos estavam em pânico, sem dormir, diziam que ia pegar fogo na Terra e a água ia invadir a casa deles", afirma Braga, que integra grupo de pesquisa em educação ambiental.
"Se para adultos enfrentar desafios ambientais já dá sensação de impotência, imagine para a criança."
Menores de sete anos não têm total noção de tempo e espaço. Não entendem onde ficam as áreas litorâneas que poderiam ser alagadas, por exemplo. "Absorvem alguns conceitos, mas não tudo", afirma a professora.
Mas as crianças levam a sério seu papel de guardiões do planeta e convocam pais e irmãos para a luta.

Na Lata
A menina Mariana Petrosink brinca com cartões telefônicos que recolhe na rua
A menina Mariana Petrosink brinca com cartões telefônicos que recolhe na rua

Mariana Petrosink da Costa, 5, cobra responsabilidade verde do irmão mais velho e controla até o tempo que ele fica no banho. "Ela chama a atenção do irmão de 16 anos", diz a mãe, a autônoma Kátia Petrosink da Costa, 44.
Depois que Mariana começou a frequentar a escola, há dois anos, a família mudou seus hábitos. Antes, só reciclavam óleo. Agora separam também garrafas e plásticos. A menina pede que escovem os dentes com a torneira fechada -ela mesma usa uma caneca para fazer bochechos.
Mariana também recolhe cartões telefônicos jogados na rua. Inventou uma brincadeira: repete "olhou para o chão, achou um cartão" sempre que pega mais um.
"Vivo com a bolsa cheia de papéis de bala, ela não joga nada fora e pede para eu guardar", conta a mãe.
Mariana estuda na zona leste, numa chamada "escola verde" da rede municipal paulistana, com projetos de conscientização ambiental. A menina chega em casa contando tudo o que ouviu lá.
"A criança reproduz na família o que incorporou na escola; ela tem força em casa, tem ascendência sobre a família, funciona como um fiscalzinho", diz a professora da UFRJ e mestre em educação Tania Zagury.
MEDOS E PESADELOS
Maria Eduarda Arb Comparato, 6, faz sua própria seleção de recicláveis. Tem uma "caixa de criatividade", onde guarda embalagens vazias. Usa o material para inventar brinquedos. "Com um pote de glitter vazio fiz um chocalho sozinha", afirma.

Na Lata
Maria Eduarda Comparato, 6, que reaproveita tudo em casa, de embalagens de presentes a potes de iogurte
Maria Eduarda Comparato, 6, que reaproveita tudo em casa, de embalagens de presentes a potes de iogurte

A menina já levou 22 tubos do interior do rolo de papel higiênico à escola, para que cada colega fizesse um bonequinho com aquilo, conta a mãe, a psicóloga Luciana Arb Comparato, 36.
Em casa, Maria Eduarda chama a atenção do culpado, se nota desperdício de água. "Precisa economizar, senão as árvores morrem e a gente fica sem ar e morre também."
Depois de visitar com a escola uma exposição sobre água, fez questão de que os pais e o irmão menor fossem também, para aprender sobre a importância dos mananciais.
"Ela é muito antenada com isso, mas acho que lida de forma saudável", diz a mãe.
A educadora Tania Zagury afirma que é essencial mostrar aos pequenos que há saídas. "Se a criança se mostrar muito preocupada, cabe aos pais passar tranquilidade, conversar e tirar todas as dúvidas do filho."
Em duas faixas de idade as crianças se mostram mais suscetíveis a medos e pesadelos. Primeiro, aos dois anos, quando ainda têm uma visão fantasiosa do mundo. Depois, aos sete, quando começam a compreender a realidade e ficam preocupadas com situações concretas.
PASSANDO CONCEITO
Para a professora Adriana Braga, uma forma de despertar a consciência ambiental dos pequenos é trabalhar valores como o respeito à vida e o cuidado com os outros.
"Ensinar que o brinquedo da escola é de todo mundo, por isso deve ser bem cuidado, que a sala de aula deve ficar limpa, porque será usada por outra turma, são maneiras de passar conceitos sobre a responsabilidade com o espaço coletivo, a essência da questão ambiental", diz. Segundo ela, as crianças recebem excesso de informações e às vezes só repetem o que ouvem, sem consciência.
A professora conta que, conversando com um grupo de alunos, todos disseram que não se devia jogar lixo pela janela do carro. Ao questionar o porquê, ouviu: "Porque a natureza fica brava", "Deus fica triste" e até "Se ninguém estiver olhando, não tem problema".
As mensagens ecológicas estão por toda a parte, mas é na escola que as principais noções de consciência ambiental são passadas.
O tema é encaixado em projetos de todas as disciplinas e séries. "Às vezes os professores não têm consciência, só reproduzem o conteúdo porque há a pressão para trabalhá-lo", diz Braga.
As irmãs Carolina, 5, e Amanda, 9, ajudam a separar o lixo em casa. Elas lavam os potes vazios e jogam na lixeira com separador de recicláveis. "Quando a professora perguntou o que faziam pelo ambiente, a mais nova disse que ia à escola de carona porque polui menos", conta a odontopediatra Adriana Ziemer Moreira, 40, a mãe, que se reveza com outras para levar as meninas.
As irmãs também dizem não brincar no banho, para não gastar água. "Elas não têm paranoia, mas é bom pensar no futuro", diz a mãe.
Um estudo na Inglaterra mostrou que 82% das crianças de 7 a 14 anos acham mais importante aprender sobre questões ambientais do que ter aulas de ciência, história e tecnologia da informação.
Das entrevistadas, 64% afirmaram ter influência sobre os pais com relação ao meio ambiente. Em outra etapa, feita com pais de crianças na mesma faixa etária, a pesquisa confirmou que elas mudam os hábitos familiares: seis em cada dez pais afirmaram que seus filhos os influenciam a ser mais "ecológicos".
A pesquisa foi feita pelo grupo inglês Co-Operative, que tem um programa educacional de escolas verdes. Ouviu 1.027 crianças e 1.002 adultos. O interesse dos mais novos pelo tema revela que a geração anterior é mais mal informada: metade dos pais admitiu dificuldades para responder às perguntas dos filhos sobre o tema.

sábado, 10 de dezembro de 2011

Análise Energia 2011/2012

Reportagem especial para o anuário Análise Energia 2011/2012 sobre as oportunidades e os desafios do setor energético brasileiro.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Construtor de 83 anos "domina" zona oeste de SP

IRENE RUBERTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Todas as manhãs, Paulo Mauro faz questão de vistoriar pessoalmente os canteiros de obras da construtora que leva seu nome. Aos 83 anos, ele já ergueu 111 edifícios residenciais, 80% deles nos bairros de Perdizes e Pompeia, na zona oeste de São Paulo. As torres revestidas de pastilhas e cerâmica tornaram-se sua marca registrada, em apartamentos que costumam ter de 100 m² a 250 m².

Paulo nasceu em Salerno, no sul da Itália, e, por um erro no registro (faltou o di antes do Mauro), muita gente se confude e pergunta qual é o seu sobrenome. Chegou ao Brasil aos dois anos, com os pais e mais dois irmãos. A família se estabeleceu no bairro da Pompeia, e Paulo não saiu mais da região.

Dos tempos de menino, lembra-se de caçar passarinhos com o pai em um matagal entre as ruas Clélia e Barão do Bananal. "Nós também íamos pegar marrecos perto da linha férrea, atrás da avenida Francisco Matarazzo", lembra.

Optou por concentrar seus empreendimentos em uma mesma região para facilitar o acompanhamento das obras. Depois de visitá-las, ele dá expediente no escritório da empresa. "Trabalho desde os 14 anos, estou acostumado", diz.

Paulo começou no laboratório químico das Indústrias Matarazzo, depois fez engenharia no Mackenzie e chegou a ser acionista do Banco Real do Progresso, que acabou sendo comprado pelo Bamerindus.

Construiu postos de gasolina e armazéns pelo interior antes de se dedicar a prédios. Atualmente, está erguendo uma torre de 27 andares na Vila Romana, na zona oeste.

Nesses mais de 50 anos, viu mudarem muitas coisas, por exemplo, o número de vagas de carros por apartamento. "Agora há empreendimentos com até três subsolos."

Com novos equipamentos, eletrodomésticos e ar-condicionado, a sobrecarga elétrica também aumentou. E os compradores hoje são mais exigentes. Para atrair o cliente, é preciso prever, na planta, sala de ginástica e cinema. As varandas também se tornaram um diferencial. "Não se pode mais viver enclausurado entre quatro paredes."

Fundada em 1955, a empresa de Paulo é enxuta, conta com 250 funcionários, mas já construiu mais de 2 milhões de metros quadrados. Ali trabalham seus três filhos: dois engenheiros e um economista. "Ele é muito motivado, tem uma disposição impressionante, não gosta de depender dos outros e nunca se abala com o noticiário econômico", conta um deles, Marcos Mauro, 48. Também já fizeram parte da construtora dois irmãos de Paulo, já falecidos.

Desde que ficou viúvo, há 11 anos, ele diz ter perdido o interesse por viagens e idas ao cinema. Embora reclame que os terrenos estejam ficando "escassos e caríssimos" na zona oeste, não pretende se aposentar e continua com novos projetos. "A gente não sabe fazer outra coisa."

terça-feira, 26 de abril de 2011

Quem é quem na rede

IRENE RUBERTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Aquele colega de faculdade que era tão simpático agora é o chato que registra os detalhes mais insignificantes do seu dia no Facebook.
Quem estava interessado em negócios e começou a seguir o executivo bem-sucedido no Twitter fica sabendo só sobre suas viagens e festas.
E é sempre um constrangimento quando um conhecido resolve expor suas crises pessoais na internet.
Frequentar as redes sociais é uma boa maneira de manter contatos, mas é preciso conter a ansiedade, a raiva e a curiosidade nessas salas sem paredes.
Muitas pessoas se sentem tão à vontade no mundo virtual que acabam revelando aspectos de suas personalidades que surpreendem (ou aborrecem) os demais.
"Todos nós temos aspectos desconhecidos até de nós mesmos, que podem ser positivos, como talentos, ou sombrios, como medos. A internet é um meio propício para experimentar esses lados", diz Rosa Maria Farah, coordenadora do Núcleo de Pesquisas da Psicologia em Informática da PUC-SP.
Uma das hipóteses para isso é que, quando se está na internet, perde-se um pouco a noção de tempo e espaço.
O internauta fica em imersão, o que favorece uma condição quase de sonho. "As pessoas se sentem mais capazes de expressar desejos que, na vida presencial, pensariam 10 mil vezes antes de demonstrar", afirma.
Nesse estado alterado de consciência, a censura e a autocrítica ficam rebaixadas.
Um estudo da Universidade da Califórnia (EUA) mostrou que os internautas ficam em estado contínuo de atenção parcial e alerta permanente. Os resultados indicam que o Twitter estimula a liberação do hormônio ocitocina e diminui os níveis do cortisol, associado ao estresse.
Segundo a pesquisa, as conexões on-line são entendidas pelo cérebro como contatos cara a cara.

SEDE DE ATENÇÃO
"Eu vejo dualidade nas pessoas nas redes sociais: o tímido se torna expressivo, e pessoas que no convívio são agradáveis e educadas ficam agressivas", diz Gil Giardelli, professor da pós-graduação da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM).
Para ele, a vontade de chamar a atenção é uma das explicações.
Um levantamento feito pelo Facebook mostra que usuários que fazem mais críticas são os que recebem mais comentários.
Para o especialista em planejamento estratégico digital Felipe Morais, os internautas se surpreendem com o comportamento alheio porque, na verdade, acabam trazendo para o seu convívio pessoas que não conhecem a fundo. "Eu mesmo tenho mais de 800 contatos no Facebook, mas posso dizer que realmente conheço uns 15."
Já o estudante de direito Guilherme Saraiva, 20, diz que já excluiu da sua lista pessoas "chatas".
A maioria dos usuários de redes sociais prefere o papel de espectador, segundo Morais, que dá aulas de comércio eletrônico no MBA da Faculdade Anhembi-Morumbi.
Um levantamento feito pelo Yahoo Research mostra que apenas 0,05% dos usuários do Twitter conseguem chamar a atenção.

MULHERES
Nas redes sociais, as mulheres se expõem mais do ponto de vista pessoal. Uma pesquisa feita no ano passado pela Oxygen Media e Lightspeed Research mostrou que 21% das mulheres entre 18 e 34 anos que estão nas redes se levantam à noite só para checar o Facebook.
"Por uma questão cultural, as mulheres são mais abertas e comunicativas. É aceitável que elas mostrem mais os sentimentos", diz a professora Rosa Farah.
A agente de negócios Fernanda Nunciato, 23, está no Facebook, MySpace, Orkut, LinkedIn, Twitter e tem um blog. Checar as redes sociais é a última coisa que faz antes de dormir e a primeira quando acorda. "Tomo o café da manhã vendo minhas páginas pelo notebook", diz.
A top model alagoana Bruna Tenório, que mora em Nova York, também adotou a rede social para se comunicar com amigos e parentes.
"O Facebook é bem útil quando preciso ter contato com amigos, acho mais ágil escrever algo no mural deles, a resposta vem mais rápido do que por e-mail", diz.
Ter muitos acessos no blog, um grande número de amigos no Facebook e de seguidores no Twitter virou símbolo de status, popularidade e prestígio.
Mas frequentar as redes sociais significa também conviver com amigos exibidos e gente mal-humorada e ficar da sabendo de detalhes pouco interessantes da rotina dos outros. "É o zoológico humano, só que visto de camarote", afirma Farah.

ALEGRIA VIRTUAL X DEPRESSÃO
A Sociedade Americana de Pediatria lançou uma cartilha alertando pais para o risco de depressão entre adolescentes que usam o Facebook. Fotos de pessoas felizes nas páginas dos outros podem passar uma visão distorcida da realidade para jovens que já têm baixa autoestima.

A 'FAUNA' DO FACEBOOK

O EXIBICIONISTA
Com textos e fotos, procura mostrar como é feliz e bem-sucedido. Fala das viagens que faz, de restaurantes e festas que frequenta e de como sua família é linda e unida. Dá a impressão de que criou um personagem

O VOYEUR
Ele está lá, mas pouco se manifesta. Pode ser por timidez ou porque não quer mesmo se relacionar com ninguém. Observa tudo e não fala nada

O CARENTE
Ele conta seu dia em detalhes. Parece precisar de reconhecimento. Com seus posts que não interessam a ninguém, parece dizer "ei, olhem para mim". Pode ser um solitário e não ser tão desocupado como aparenta

O POPULAR
Ele quer ter 1 milhão de amigos, como na música. Adiciona até quem não conhece direito para atingir sua meta. Provavelmente também é assim no mundo 'real' e mostra esse aspecto nas redes sociais

O BIG BROTHER
Ele escancara sua vida pessoal, relata crises conjugais e reclama do trabalho. Pode não ter noção de que muito mais gente do que imagina está lendo o que escreve ou não percebe que está sendo inadequado

O POLÊMICO
O simples comentário que alguém fez sobre um filme pode virar uma grande dor de cabeça quando o crítico resolve se manifestar. Ele é o mal-humorado, o do contra, que vê em tudo uma teoria da conspiração

O BAJULADOR
O puxa-saco está sempre pronto para dar os parabéns, principalmente se os colegas forem mais ricos e bem-sucedidos do que ele. Diz que os amigos estão lindos, que os bebês são fofos e que está com saudades

Menos, gente, menos

Quem vai se manifestar nas redes sociais não deve agir por impulso. "Em qualquer mídia virtual, se 20 pessoas replicarem uma informação sua, ela será distribuída para 8.000 pessoas. É como pólvora", diz o professor Gil Giardelli.
"As empresas olham o que você coloca na rede e há até o risco de perder o emprego. A reputação é a moeda do século 21 e isso serve para trabalho, namorada e amigos."
Para a professora Rosa Maria Farah, tudo depende da maturidade emocional do internauta e do conhecimento que ele tem das ferramentas. "Ele pode achar que está falando para um grupo quando uma comunidade inteira tem acesso às informações."
Caso se arrependa do que disse, pode até apagar o que escreveu, mas já terá perdido controle da informação.
"É como a fábula do rapaz que foi repreendido por um sábio por uma fofoca que fez", compara. No conto, o jovem pede uma penitência proporcional ao estrago que fez e o sábio diz que ele deve espalhar as penas de um travesseiro do alto de um morro e descer para recolhê-las.
"Era impossível. Com a informação na internet é a mesma coisa: ela se espalha e não se tem mais controle."
"Diariamente, são levadas ações à Justiça que têm como prova o que está nas redes sociais", afirma o advogado Leandro Bissoli, especializado em direito digital. Ele conta que os problemas mais comuns são o uso indevido de imagens e os crimes contra a honra, como a difamação.
"As pessoas acabam produzindo provas contra elas mesmas", diz. Há casos de pessoas que alegam problemas de saúde para se afastar do trabalho, mas postam fotos de viagens na rede. E há funcionários que acabam registrando situações no trabalho que podem levar à demissão por justa causa.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Bonecos adesivos "família feliz" viram moda no trânsito

IRENE RUBERTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Começou com um casal simpático e seus filhos sorridentes. A sogra, o cachorro e o papagaio chegaram em seguida. Os adesivos representando uma família feliz ganharam a traseira dos carros e viraram moda. Os bonequinhos, que começaram a se tornar mais populares a partir do segundo semestre do ano passado, não param de ganhar cada vez mais modelos e novas versões.

Tem pai careca ou cabeludo, mãe perua, bebê e várias opções de pets, que vão de gato e cachorro a coelho e tartaruga. Só a empresa Job Adesivos, que atende pela internet e em uma loja no Tatuapé, região leste de São Paulo, oferece cerca de 200 modelos de adesivos.

Mas quem ainda assim achar que sua família não ficará bem representada pode pedir a personalização dos adesivos. “Já encomendaram um boneco com perna engessada e um pai falecido, com asas, como um anjo”, conta o proprietário, Germano Spadini da Silva Júnior, de 31 anos, que vende de 8 mil a 9 mil unidades por mês. Cada adesivo custa R$ 3,00 e os personalizados podem chegar a R$ 5,00.

“As mulheres são as que mais compram”, conta Alexandre Augusto Cunha, de 34 anos, sócio da empresa Store One. São mais de 50 modelos de bonequinhos, com preços que vão de R$ 5,50 a R$ 8,50. “Os campeões de venda são o pai executivo, carregando notebook, e a mãe perua, de celular e sacola de compras.”

Existe até uma versão estilizada da família, representada por havaianas. Um chinelão para o pai, um menor para a mãe e pares pequenos dos filhos. “Criamos esse adesivo para ser uma opção diferente e está vendendo bem”, afirma Camila Salema, de 32 anos, da empresa Leguts. A cartela com 24 pares custa R$ 45,00. A empresa está desenvolvendo duas linhas de família feliz que devem estar à venda no site no início do próximo mês.

No meio dos congestionamentos, os autocolantes acabam chamando a atenção. “Pelos retrovisores, vejo o pessoal dos outros carros apontando e comentando sobre os nossos adesivos”, conta o empresário André Monteiro Carvalho, de 40 anos. Há cinco meses, ele colou os bonequinhos em seu carro, representando ele, a mulher, os dois filhos, a sogra e o cachorro. “Foi todo mundo junto na banca de jornal para escolher seu próprio adesivo e dar palpite.”

Há quem tema usar os autocolantes por achar que estará dando informações para bandidos, que pelos adesivos poderiam saber hobbies e profissões da família. A Polícia Militar de São Paulo, por meio de sua assessoria de imprensa, informa que não “há estudos que relacionem o uso dos adesivos e a criminlidade”.

Ação de pessoas mal intencionadas que se tenha notícia, só em um vídeo que está fazendo sucesso no YouTube. Na gravação bem humorada, intitulada A Guerrilha dos Adesivos de Família, um grupo de rapazes cola figuras nos carros, sugerindo relações extraconjugais e a existência de filhos fora do casamento. Em um dos carros estacionados, colocam dois bonequinhos iguais , como se o veículo pertencesse a um casal gay.

terça-feira, 22 de março de 2011

Vovóóó

IRENE RUBERTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Eles buscam na escola, levam à natação, ajudam no banho. Cada vez mais avós respondem por cuidados com as crianças Mas a questão é que eles também liberam o doce antes do jantar.

Os pais não poderiam contar com ajudantes mais confiáveis e preparados. Só que divergências no jeito de educar os pequenos podem tumultuar a convivência.

"As avós acham que, se deu certo da forma como fizeram com os filhos, não há por que mudar. Mas a medicina evoluiu muito" diz o pediatra Fabio Ancona Lopez, que lança hoje o livro "Avós e Netos" (Manole),um manual de convivência.

Segundo ele, muitas avós insistem em dar chás e papinhas para bebezinhos, quando a recomendação, hoje, é o aleitamento materno exclusivo até os seis meses.

Avós também estão presas à ideia de que "mais gordinho é mais fortinho", afirma. "A criança que passa mais tempo com avó tende a ter um ganho de peso maior."

Se é assim, Lopez pede que a avó participe das consultas. "Pediatra que não ganha a avó perde o cliente", diz.

Além de ter guloseimas, a casa dos avós costuma ser um espaço gostoso onde netos podem assistir TV até tarde, comer no sofá etc.

Quer dizer: mais motivos para discussões entre pais e avós. "Na casa dos pais é uma lei, na dos avós é outra", libera geral a psicóloga Ceres Alves de Araújo.

"Quem educa é pai e mãe, os avós não têm essa função."

Vovô e vovó estão, portanto, autorizados a deixar o neto fazer tudo, até o que talvez negaram aos filhos, quando eram papai e mamãe.

Mas, se os pais da criança fazem um pedido tipo não dar chocolate à criança, os avós devem atender, diz a psicóloga. "Agora. se não há ordem contra, tudo bem."

Se pais e avós não forem um só time, o pequeno percebe e tira proveito. "Sem acordo, a criança manipula", diz.

É preciso ficar claro que quem manda são os pais. "Se a criança pede algo aos avós, esses devem dizer que vão consultar os pais dela antes."

Beatriz Ramos, 63, diz se esforçar para não interferir na educação do neto Heitor, um ano e sete meses. "Tento ser solidária, mas respeitar o espaço. É preciso estar por perto, mas não tão perto."

Antes de arrumar uma briga por uma bobagem, os pais devem levar em consideração a dedicação dos avós.

"É preciso saber agradecer, lembrar que eles não têm obrigação de cuidar de criança, e que isso às vezes é um esforço para uma pessoa de mais idade", diz Tania Zagury, professora da UFRJ que lança o livro "Filhos: Manual de Instruções".

Para ela, avô não estraga neto. "O maior estrago pode ser mimar um pouco, mas o ganho afetivo é maior que qualquer mau hábito que a criança possa adquirir."

A convivência entre avós e netos beneficia os dois lados, claro. A tarefa de cuidar de criança faz com que muitos avós se sintam úteis e renovados. "Pessoas aposentadas e deprimidas ganham motivação com a responsabilidade, além do carinho da criança", diz Lopez.

Do lado dos netos, os ganhos vão além dos mimos. "A criança percebe o processo de envelhecimento, aumenta seu respeito pelos idosos e tem uma noção mais completa de família", diz a educadora Tânia.

NOVAS FAMÍLIAS

Os avós são figuras importantes nas novas famílias, com tantas separações e ramificações. "Aos avós cabe o papel de promover a unidade e harmonia dessas famílias ampliadas", diz Lopez.

Muitas vezes, são os avós que têm novas uniões: surgem as figuras da avó madrasta, a "avodrasta", e do "avodrasto". "Avós acabam abarcando uma infinidade de crianças introduzidas na família", diz Ceres.

A Câmara dos Deputados aprovou projeto que dá aos avós o direito de visitar os netos, filhos de pais separados. Não é raro a criança manter só o vínculo familiar com quem obteve a guarda. Falta a sanção presidencial.

O administrador Danilo Chasles, 72, diz que remoçou com o nascimento do neto, Gabriel, 2. Vovô o acompanhou desde os exames de ultrassom e cuidou do menino quando recém-nascido.

"O Gabriel chama meu pai de 'vovô amigão'", diz a psicóloga Luciana Chasles, 32. E o "amigão" conta: "Quando vou buscá-lo na escola, ele corre e pula no meu colo."

CASA DA VOVÓ X ESCOLINHA

Quem não pode contar com os pais em tempo integral para deixar os filhos recorre às escolas infantis.

"Deixar com os avós é vantajoso pelo vínculo amorosos", afirma a professora Maria Márcia Sigrist Malavasi, coordenadora do curso de pedagogia da Faculdade de Educação da Unicamp.

Mas as chamadas escolinhas oferecem vantagens. "Esses espaços possuem uma metodologia para cada faixa etária e criam um clima coletivo. As crianças aprendem a repartir, a perder e a ganhar", afirma a professora.

Um estudo de pesquisadores britânicos mostrou que bebês que estavam sob os cuidados dos avós aos nove meses de idade apresentaram mais problemas de comportamento aos três anos em comparação com crianças que estavam em creches, escolinhas ou com babás.

Foi provado que os bebês que convivem mais com os avós têm mais facilidade para vocabulário, mas perdem em experiências sociais.

"Os espaços cuidadores são mais lúdicos, a criança começa a ter uma desenvoltura melhor", defende a professora da Unicamp. "Se estiver pintando ao lado de um colega, a criança vai olhar o que o outro está fazendo, tentar imitar. Em casa, é provável que a avó queira ajudar com a pintura, e a criança não se sentirá tão desafiada."