quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Oportunidades até para arqueólogos

Anuário Exame

Depois de se formar em 2002 pela Universidade de São Paulo, o arqueólogo Francisco Pugliese, de 31 anos, tinha como uma das poucas opções de trabalho dar aulas em faculdades particulares. Hoje, ele desenvolve pesquisas de campo num lugar que nunca poderia imaginar quando sonhava em se transformar numa versão nacional de Indiana Jones: o canteiro de obras da usina Santo Antonio, em Porto Velho, Rondônia.

Pugliese faz parte de um grupo de 80 arqueólogos que estuda a área que será inundada pela hidrelétrica, recolhendo objetos antigos no terreno de 11 000 hectares do futuro reservatório. Desde o inicio deste ano, já foram coletadas 143 000 peças, que vão desde fragmentos cerâmicos até urnas funerárias. "Algumas das civilizações que produziram esses utensílios viveram por aqui há 7 500 anos", afirma Pugliese, cuja jornada de trabalho começa às 7 da manhã e se encerra apenas no final da tarde.

Quando o trabalho dos pesquisadores estiver concluído, coisa que deve ocorrer até o primeiro trimestre de 2010, os objetos ficarão sob a responsabilidade da Universidade Federal de Rondônia. "Estamos conseguindo levantar um material riquíssimo", diz Ricardo Alves, gerente de sustentabilidade da Santo Antonio Energia, consórcio responsável pela obra.

A arqueologia, área tradicionalmente mais ligada ao mundo acadêmico no Brasil, vive um momento curioso: nunca seus profissionais foram tão procurados e valorizados no país quanto agora, a ponto de faltar gente para preencher vagas nos escritórios especializados em emitir laudos de estudos arqueológicos. "Temos problemas para recrutar mão de obra, coisa que não ocorria no passado", afirma Renato Kipnis, sócio-diretor da empresa Scientia Consultoria, especializada neste tipo de laudo, que entrou em 2002 para a obtenção da licença prévia de construção de grandes obras. Não é incomum um projeto sofrer mudanças diante da descoberta dos especialistas. O traçado da linha de transmissão Tucuruí-Vila do Conde, no Pará, por exemplo, foi modificado seis vezes para que não houvesse interferência em um sítio arqueológico.

Há apenas 20 anos atuavam no setor cerca de 20 empresas privadas de arqueologia.. Desde então, esse número quadruplicou. Os salários dos arqueólogos começam na faixa de 1 800 reais e ultrapassam os 6 000 reais no caso dos profissionais mais experientes. Como reflexo da procura por arqueólogos no mercado, as faculdades começaram a multiplicar os cursos. Existem hoje oito deles no país, sendo que quatro foram criados há menos de um ano. Outros dois devem surgir em 2010. "Todas as carreiras ligadas a áreas ambientais tende a crescer, porque os relatórios devem ficar cada vez mais rigorosos", afirma Pedro Paulo Funari, coordenador no núcleo estudos estratégicos e professor do departamento de história da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Outras areas se beneficiam da onda de obras no país (veja quadro). As descobertas recentes do pré-sal estão aumentando a demanda por vagas especializadas, como a de oceanógrafo. "Nos últimos anos a demanda pelos profissionais da área cresceu 100%", diz Fernando Diehl, secretário-geral da Associação Brasileira de Oceanografia. Ele explica que a evolução está associada à entrada de novas empresas na exploração do petróleo e também às obras de modernização em portos. Fenômeno semelhante ocorreu na área de geologia. "A cada ano se formam cerca de 400 geólogos no Brasil e só a Petrobras, que é a maior empregadora dessa área no país, tem contratado de 100 a 120 profissionais por ano", diz Rômulo Machado, professor do departamento de geo ciências da Universidade de São Paulo e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Geologia.

As grandes obras também estão abrindo oportunidades de emprego para médicos do trabalho e outros profissionais ligados à saúde. Para Mário Bonciani, vice-presidente da Associação Nacional de Medicina do Trabalho, a demanda maior é conseqüência de mudanças recentes na legislação que se traduziram em aumento de custos para os empregadores em caso de acidentes de trabalho e doenças profissionais, seja com o pagamento de benefícios, seja com indenizações. "A partir do ano que vem entra em vigor a mudança no cálculo do Fator Acidentário de Prevenção. Com isso, quem registrar menos ocorrências será beneficiado com uma taxa menor. É um valor significativo, que leva os empresários a investir", diz. Com a demanda no mercado provocada pelas grandes obras, a especialidade, que nuca esteve entre as mais glamourosas da carreira, já está entre as cinco mais procuradas da medicina.


ALÉM DOS OPERÁRIOS
Alguns exemplos de carreiras que estão em alta graças à onda de projetos de infra infraestrutura que estão sendo tocados no país
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• Arqueólogos: Em razão da exigência de laudos especializados para o inicio de algumas obras, o números de empresas no país que reúnem esses profissionais quadruplicou nas duas ultimas décadas
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• Geólogos: As universidades brasileiras formam 400 profissionais por ano nessa área, número insuficiente para abastecer o mercado. Só a Petrobras absorve um quadro dessa mão de obra por ano
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• Médicos: Por causa de mudanças na legislação, que tornaram mais altas as multas em caso de acidentes, a medicina do trabalho está entre as cinco mais procuradas especializações da medicina